Thursday, October 26, 2006







Rev. bras. Hist. vol.21 no.40 São Paulo 2001

Profetas e santidades selvagens. Missionários e caraíbas no Brasil colonial
Cristina Pompa*
Doutoranda da UNICAMP e da École de
Hautes Études en Sciences Sociales


RESUMO
Na batalha pela conquista das almas selvagens, os caraíbas, os grandes xamãs dos Tupinambá, foram considerados pelos missionários como instrumentos do demônio. Ao mesmo tempo, nas fontes quinhentistas e seiscentistas encontramos as categorias de "santidade" ou "profeta", como tradução do termo indígena caraíba. Remetendo os relatos missionários ao contexto histórico e cultural em que se produziram, o artigo tenta identificar o campo semântico a partir do qual o Ocidente evangelizador realizou a leitura e a construção da alteridade indígena. O "profeta" aparece assim como uma construção negociada: a linguagem religiosa é o terreno de mediação, onde cada cultura, a ocidental e a indígena, encontram o sentido da "diversidade" da outra.
Palavras-chave: indios, xamanismo, missionários

ABSTRACT
In their battle to conquer Tupinambá souls, early missionaries found their greatest adversaries among the Caraíbas, or great shamans, whom sixteenth and seventeenth-century sources describe as the devil’s emissaries. These same sources, however, also employ the terms "holiness" and "prophet" in their translation of the indigenous word "Caraíba". This article seeks to explain this apparent contradiction by placing missionary accounts within the historical and cultural contexts in which they were produced. This allows us to identify the semantic field upon which the evangelizing West based its reading and translation of indigenous "otherness", through the use of religious terms.
Keywords: Indians, shamanism, missionaries


Poucos fenômenos culturais das terras baixas da América do Sul tiveram tanta fortuna entre os estudiosos de religião indígena quanto o chamado "profetismo tupi-guarani", cujo tema central consistiria principalmente, mas não exclusivamente, nas migrações "místicas" dirigidas pelos grandes xamãs, ou profetas, em busca de uma terra maravilhosa, onde não seria mais necessário trabalhar, e onde não existiriam nem doença nem morte: a Terra sem Mal1.
Desde as primeiras observações de Nimuendajú, através dos trabalhos de Métraux, até as pesquisas de Pierre e Hélène Clastres, o profetismo tupi-guarani tem sido geralmente considerado como um fenômeno totalmente autóctone, relativo a um sistema cosmológico intrínseco à cultura tupi-guarani como um todo, preexistente à conquista, que se manteve intacto ao longo dos séculos da história do contato como o núcleo mais autêntico do "ser" cultural tupi-guarani. Nos últimos anos, porém, estas teses estão sendo postas em discussão por etnólogos e historiadores, a partir de uma perspectiva que leva mais em consideração o enfoque histórico, perspectiva esta quase ignorada até a década de setenta2.
No espaço deste artigo não é possível enfrentar o problema da construção do "profetismo tupinambá" como objeto antropológico3. Também, não quero retomar a eterna discussão sobre a anterioridade ou a posterioridade das manifestações "proféticas" à chegada dos brancos, sobretudo porque – colocada nestes termos – a questão não pode ser resolvida. O que interessa aqui é tentar compreender os limites e a função do campo, ou melhor, dos campos semânticos construídos em volta e a partir da noção de "profecia", no contexto do encontro entre indígenas e europeus no Brasil quinhentista e sescentista.
Para uma melhor designação dos conceitos de "profeta" e "profecia" no interior dos códigos religiosos em pauta, vale talvez lembrar alguns momentos decisivos na história de sua construção e utilização. O grego prophetes traduz o hebraico nabi. O sentido original do termo, o de adivinho, especialista da divinação, amplia-se no hebraísmo clássico, designando o "autor inspirado". A profecia hebraica tradicional consiste, na Bíblia, na previsão de calamidades ou na explicação de desastres acontecidos como punições infligidas por Yahweh ao povo de Israel; são estes os chamados "profetas anteriores". Com o colapso final do Reino de Judá e o exílio babilônico, a profecia passa a proclamar, com os chamados "profetas posteriores" (Isaias, Ezequiel, etc.) a próxima instauração de uma nova, perfeita ordem das coisas: o novo Reino, ligando-se à expectativa do Messias. Imbuído, desde o início, da idéia profética da realização do Reino, o cristianismo lê, portanto, a história como história da salvação. A plenitude dos tempos é anunciada no livro do Apocalipse, conclusão cristã da tradição profética de Israel. A etnologia religiosa herda o sentido cristão do termo "profetismo", com o qual indica os movimentos socioreligiosos dos grupos étnicos que projetam num futuro escatológico a radical transformação de uma realidade de crise, freqüentemente, mas não necessariamente ligada à situação de domínio colonial.
Voltando ao Brasil do século XVI, acompanhar o iter semântico dos termos "profeta" e "santidade", usados para designar os grandes xamãs, leva-nos a desvendar o processo de leitura e tradução do "outro", que se iniciou com a descoberta, com os primeiros relatos dos viajantes e missionários a respeito dos tupinambá e de seus grandes xamãs: os caraíbas. Com efeito, pretendo aqui refletir sobre o fato de que o "profetismo" é muito mais a projeção de uma categoria ocidental, utilizada na época do contato para ler, entender, e finalmente construir o "outro" indígena, do que propriamente um elemento "original", no sentido de pré-colonial, da cultura tupi-guarani.
A presença de "profetas" e "santidades" em terra de bárbaros e pagãos, em suma, remete a um problema histórico-cultural: o do uso que foi feito destes termos na época dos primeiros contatos, para entender uma alteridade antropológica que a descoberta colocava como dilema. A projeção na humanidade selvagem de categorias tão carregadas de sacralidade no mundo ocidental tinha em primeiro lugar uma função analógico-classificatória (a de "nomear" o outro através de uma linguagem conhecida), mas obedecia também a uma exigência teorética dos missionários de época colonial, portadores de algumas instâncias profético-salvíficas da Idade Média que estava terminando, instâncias que alimentavam as próprias descobertas que estavam acontecendo.
Os antropólogos, encontrando categorias já constituídas nas fontes, as "herdaram", pois além de cumprir a mesma função analógico-classificatória, elas obedeciam também a exigências teórico-metodológicas específicas. Isto não quer dizer que o "profetismo" tupinambá seja apenas uma "invenção" ocidental da época renascentista, "reinventada" pela antropologia no século XX. Pelo contrário, tentarei mostrar como ele constitui um produto cultural original da colônia, fruto do encontro e da tradução recíproca entre escatologia missionária e cosmologia indígena.
Por isso, abordarei a questão da construção do objeto "profeta", ou "santidade", nas fontes quinhentistas e seiscentistas, recolocando-a em seu contexto histórico e cultural para reformular em termos históricos o problema do "profetismo tupi-guarani".

A INVENÇÃO DA AMÉRICA
As Relações de viagem como fruto do processo de "invenção da América", como diz O’Gorman, já foram e continuam sendo muito estudadas. Basta pensar no próprio O’Gorman, em De Certeau, em Todorov, em Lestringant, em Giucci, só para citar alguns autores fora do Brasil ou, no Brasil, em Laura de Mello e Souza, em Ronaldo Vainfas, em Ronald Raminelli, etc.4
Portanto, não constitui nenhuma novidade, hoje, dizer que o indígena descrito nos relatos dos viajantes e missionários é a alteridade radical que a Europa já conhece bem de toda uma literatura clássica, medieval e renascentista. As observações dos cronistas não surgem a partir da realidade indígena, mas, ajudadas pela peculiaridade das culturas nativas, contam algo sobre seu próprio sistema de crenças e valores. Os relatos de viagem, a partir de Colombo, encontram e descrevem apenas o que já conhecem, do Reino do Prestes João ao itinerário teológico, pois a argumentação decisiva não é a prova empírica mas o discurso de autoridade dos eruditos e dos santos. Entre real e imaginário, as imagens e narrativas que os viajantes do século XVI carregam consigo (da Navegatio Sancti Brandani a Il Milione de Marco Polo) fornecem uma imago mundi coerente, sustentada e protegida pelo horizonte teológico. Mesmo quando as imagens oníricas e fantásticas se apagam, a "observação" da realidade continua ocorrendo através da mediação dos esquemas culturais familiares ao observador, mediação esta necessária para organizar e até mesmo para perceber os "fatos", pois a comparação analógica é o único instrumento epistemológico de compreensão cultural.
A famosa análise de Michel de Certeau da Histoire d’un voyage fait en la Terre du Brésil, de Jean de Léry, por exemplo, mostra como a representação histórica se transforma em mise en scène literária pela prática da escrita historiográfica. A narrativa é uma viagem em busca do eu, cujo produto final é a invenção do Selvagem. Na véspera dos tempos modernos, as descrições de Léry inauguram uma série de quadros análogos aos que os relatos de viagem vão apresentar durante quatro séculos.

POVOS SEM RELIGIÃO
No caso específico do domínio do "religioso", as descrições dos viajantes e, sobretudo, dos missionários, são iluminadoras da atitude do ocidente evangelizador diante dos habitantes da Terra dos Papagaios: a descrição dos "selvagens" e de sua religião (ou, melhor, da falta desta) é uma construção que, por um lado, é devida à impossibilidade de reconhecer nos índios o modelo de alteridade religiosa oferecido pelo paganismo clássico e, por outro, é funcional ao projeto catequético.
Com efeito, os cronistas recusam-se a ver fatos de ordem religiosa onde a Escolástica não manda encontrá-los; por isto, os selvagens tupinambás são tão "bárbaros" que não têm religião. Mas, por outro lado, com eles precisa se realizar o desenho divino da pregação do Evangelho aos quatro cantos da terra. Por isto, eles são "gentis", na acepção de São Paulo. Ou seja, não são iluminados pela verdadeira fé, mas são passíveis de recebê-la. Entre bárbaros e gentis, entre selvagens e inocentes, entre a ausência de regras morais e a presença de um fundo de humanidade que pode tornar o índio um bom cristão, joga-se a partida da construção do indígena na terra de Santa Cruz.
Entre os tupinambá, os missionários não encontraram nenhum sinal da "idolatria" ou do "paganismo" que eles esperavam e que caracterizava outras regiões do Novo Mundo, como o Peru incaico ou o México asteca: crenças, sacrifícios, ídolos. Nos relatos, não apenas de missionários de diversas ordens religiosas, ou até de diversas confissões, mas também de viajantes leigos, esta ausência de crença, seja mesmo idólatra, junto com a ausência de outros princípios da civilização que até os pagãos têm, é patente.
Já Pero Vaz de Caminha, poucos dias depois do "achamento", declarava que "…eles, segundo parece, não têm nem entendem em nenhuma crença". Também pouco tempo depois de sua chegada, em sua "informação das terras do Brasil" (agosto de 1549), o padre Manuel da Nóbrega afirmava categoricamente que "esta gentilidad a ninguna cosa adora". Pero Magalhães de Gândavo, em 1570, e Gabriel Soares de Souza, em 1587, escreviam que os índios não têm "nem fé, nem lei, nem rei". Também para o jesuíta Cardim, "este gentio não tem conhecimento algum de seu Creador, nem de cousa do Céo… e portanto não tem adoração nenhuma, nem ceremonias, ou culto divino"5.
O cosmógrafo franciscano André Thevet, de volta da experiência na "França Antártica", assim a descrevia em 1558: "…esta região era e ainda é habitada por estranhíssimos povos selvagens sem fé, lei, religião e nem civilização alguma, vivendo antes como animais irracionais…"6.
Jean de Léry mostrou em várias ocasiões sua aberta simpatia para com os "selvagens", cujas "barbáries" eram bem menores do que aquelas cometidas pelos europeus dilacerados pelas guerras de religião. Contudo, ele teve que reconhecer que é difícil aplicar aos selvagens Tupinambá a famosa sentença de Cícero, de que não há nação tão bárbara e selvagem que não tenha sentimento de uma divindade:
Pois, além de não ter conhecimento do verdadeiro Deus, não adoram quaisquer divindades terrestres ou celestes, como os antigos pagãos, nem como os idólatras de hoje, tais os índios do Peru…Não têm nenhum ritual, nem lugar determinado de reunião para a prática de serviços religiosos, nem oram em público ou em particular".7
As palavras de Léry voltam, praticamente idênticas, quase quarenta anos depois da publicação de sua obra, no relato do capuchinho Claude d’Abbeville, que traduz de forma mais articulada o espanto do ocidental (eclesiástico) perante a "falta de religião" entre os Tupinambá:
Não há, penso eu, nenhuma nação no mundo que não tenha uma religião. Todas adoram a um deus, salvo a dos Tupinambá que não adora nenhum, nem celeste nem terrestre, que não idolatra nem o ouro nem a prata nem as madeiras, nem as pedras preciosas nem qualquer outra coisa. Não tinha, até nossa chegada, religião; portanto não tinha sacrifícios, nem sacerdotes, nem ministros, nem altar, nem templos ou igrejas. Nunca souberam os índios Tupinambá o que fosse nem prece nem ofício divino nem oração pública ou particular. … Não têm culto algum, nem interior nem exterior.8
A extraordinária coincidência destas observações, é bom lembrar, depende menos de uma coincidência de fatos observados do que da circulação dos relatos entre os escritores. É patente o caso dos jesuítas, cujas cartas circulavam – de acordo com as indicações do próprio Inácio – em várias traduções, entre a casa geral e as diferentes províncias. Também vale lembrar a longa polêmica entre Thevet e Léry, que conheciam muito bem um a obra do outro, e que por sua vez influenciaram os autores sucessivos, de Montaigne ao próprio d’Abbeville. Todos eles parecem ter atingido uma primeira fonte: a carta de Amerigo Vespucci a Lorenzo de Medici, datada de 1502: "Non tengono né legge né fede nessuna, vivono secondo natura. … non hanno Re né ubidiscono a nessuno", como também o Mundus Novus: "nullum habent templum et nullam tenent legem, neque sunt ydolatre" 9. Vespucci, de fato, foi o primeiro teórico do "estado de natureza" dos selvagens, teoria esta que também influenciou, como veremos, nossos autores.
A coincidência dos relatos dos viajantes revela também o grande debate que estava se travando na Europa a respeito da natureza dos selvagens ou, melhor, do "estado de natureza" deles: tratava-se, de fato, do processo de releitura da identidade ocidental ante as novas humanidades que a descoberta apresentava, através da construção de sua alteridade. O código religioso era, obviamente, o privilegiado na definição da alteridade pela concepção teológica dos missionários. Mas aqui a construção dos outros esbarrava numa dificuldade: os selvagens da terra de Santa Cruz não apresentavam aqueles elementos que encontramos na longa lista de d’Abbeville e que definem o que é a Religião: ídolos, templos, sacerdotes.
A recuperação da antigüidade clássica pela cultura humanista fazia com que a comparação nós-outros se desse em termos de "paganismo": o politeísmo pagão era a dimensão em relação à qual o monoteísmo cristão pensava em si próprio. Por isto, o paganismo (transformado em "idolatria") constituía a necessária linguagem de reconhecimento e de comunicação com as humanidades outras.10 Isto tinha funcionado na Índia e funcionava no México e no Peru; mas o que fazer da humanidade tupinambá, junto à qual não se encontram os sinais diacríticos da existência de uma "religião"?
A hermenêutica dos viajantes caracterizava então pela ausência o que se apresentava como impossibilidade de identificação de uma presença esperada: se não há ídolos, sacerdotes e templos, não há religião.

DEUS, OS SELVAGENS E O FIM DOS TEMPOS
Mas este mesmo saber, imbuído de classicidade e Escolástica, entre projeto teológico medieval e cultura humanista, tinha chegado à conclusão, codificada pela Bula Sublimis Deus de 1537, de que os americanos eram homens ("veri homines"), homens "naturais", de acordo com a primeira noção de Vespucci, e como mais tarde Acosta tentará sistematizar na monumental Historia Natural e Moral de las Indias, ao falar em homines sylvestres. Também os homens da natureza – aliás, principalmente estes – precisavam da palavra divina para que se cumprisse a profecia da pregação do Evangelho aos quatro cantos da terra.
Ora, se esta falta de religião facilitava a catequese, eliminando o trabalho de extirpação da idolatria e permitindo trabalhar num terreno virgem, por outro lado a Escolástica mandava identificar no intelecto deste homem "natural" um mínimo sinal da presença de Deus.
Eis, portanto, que quase nas mesmas páginas em que declaram a ausência de religião entre os Tupinambá, os nossos autores apontam para a presença desta noção mínima de Deus entre os selvagens americanos. É uma contradição, não apenas interna aos missionários mas à própria cultura ocidental do século XVI, problema histórico e cultural posto pelo conflito entre o saber garantido pelas certezas da fé e a nova razão "natural", entre os paradigmas medievais e o novo sistema (poder-se-ia dizer "global") que está se construindo a partir da absorção das novas humanidades.
Em vários pontos de sua obra, Thevet, Léry e d’Abbeville lembram a máxima de Cícero (e também a filosofia de Aristóteles, de Tomás de Aquino), segundo a qual não existe povo tão bárbaro que não possua, por instinto, uma mínima noção de divindade. E esta noção se concentra em Tupã, ser mitológico ligado ao céu e ao trovão e, portanto, por analogia, à dimensão celeste do ser supremo da religião judaicocristã.
É por isto que não existe nação tão bárbara que não possua, por instinto natural, uma crença religiosa qualquer e alguma idéia da existência de Deus. […] No que se refere a este assunto, os selvagens deste lugar mencionam um grande ser, cujo nome em sua língua é Tupã, acreditando que viva nas alturas e que faça chover e trovejar.11
A analogia é ainda mais clara no discurso jesuítico. Nas mesmas Informações das terras do Brasil, em que declara a falta de crença entre esta "gentilidade", Nóbrega acrescenta que os inacianos, por falta de outro termo para indicar Deus, servem-se justamente do de "Padre Tupana". Cardim se expressa mais ou menos nos mesmos termos, desvelando a pedagogia jesuítica que constrói o Tupã enquanto deus para, a partir dele, elaborar o projeto catequético. A analogia ocasionada pelo caráter urânico de Tupã é a mais patente, mas há outras, como no caso da passagem do apóstolo Tomé ou o conhecimento que os selvagens tinham do dilúvio. Trata-se, aqui, do que Ronaldo Vainfas chama de "hibridismo cultural", derivante da "tradução do catolicismo para o tupi e a tradução tupi do catolicismo". Voltarei a esta questão.
Os Tupinambá, portanto, não tinham religião, mas apenas – como era óbvio em um povo "natural" – uma vaga noção de divindade. O homem natural trazia consigo, em baixo relevo, a possibilidade de uma religião, e de uma religião monoteísta, conforme a teoria da "degeneração" em virtude do isolamento das tribos do Brasil – depois da primeira Revelação.
A bula do papa Paulo III, além de reconhecer-lhes a dignidade de homens, mandava trazer os índios para a fé cristã através da pregação do Verbo de Deus e do exemplo. A imposição da religião dos conquistadores encontrava assim sua plena legitimação, realizando a grandiosa profecia da Conquista: a construção do Reino de Deus na Terra, com um povo virgem.
Aqui está um dos nós conceituais da pregação missionária, nó que, aliás, tinha dirigido teologicamente até a própria "descoberta": o milenarismo cristão.
Muito já foi dito a respeito da visão escatológica e providencialista do próprio Colombo, influenciado pelo meio franciscano ibérico, de tendências joaquimitas. Colombo estava certo de estar realizando a profecia das Sagradas Escrituras, "descobrindo" o novo céu e a nova terra, dos quais fala João no Apocalipse (21,1), e apressando a história do mundo, conforme a promessa de Mateus "Propter electos breviabuntur dies illi" (Mat. 24,22).
Também, vários autores apontaram para o caráter de "fim dos tempos" da pregação no Novo Mundo dos franciscanos, intérpretes das aspirações profético-apocalípticas de uma parte da cristandade perante a reforma. Milenarista era Martin de Valencia, superior dos primeiros doze "apóstolos" franciscanos enviados ao México, como também imbuídos de esperanças escatológicas eram Motolinia (um dos doze) e Mendieta, teorizador dos índios como genus angelicum com que seria possível reconstruir a igreja no Novo Mundo, antes do fim dos tempos.12
No Brasil, percebe-se também um clima milenarista; basta pensar na primeira página da Histoire de la Mission, de d’Abbeville, em que o capuchinho transcreve a profecia de Mateus: "Et predicabitur hoc evangelium regni in universo orbe, in testimonium omnibus gentibus, et tunc veniet consummatio." Também os outros autores, como Thevet, Léry e d’Evreux, não deixam de mencionar o fim dos tempos e o juízo final, que coincidiria com a pregação da palavra de Deus aos selvagens.
Nos jesuítas, este pendor profético é menos evidente, porque a iminência do Apocalipse não condiz com seu projeto catequético de longo prazo. O grande teórico da alteridade indígena pelo código religioso, Acosta, dedica até sua obra De temporibus Novissimis à exegese do Apocalipse que, para ele, não pode ser considerado tão próximo, já que o simples anúncio do cristianismo a todas as gentes não significa uma verdadeira conquista espiritual à fé cristã. Contudo, se pensarmos na visão edênica de Vasconcelos, que coloca o paraíso terrestre no Brasil, ou no grande intérprete do milenarismo barroco: Antônio Vieira, ou, principalmente, no grandioso projeto das reduções jesuíticas do Paraguai como realização do Reino de Deus na terra, aparece claro que os inacianos também foram sensíveis às instâncias proféticas que animaram a conquista espiritual do Novo Mundo.
A necessidade, filosófica e teológica, de atribuir aos índios umas crenças, mesmo se vagas ou errôneas, obedecia a uma exigência cultural de "ler" o outro e traduzi-lo e, por outro lado, traduzir o "eu" para o outro. Para isto era necessário construir uma linguagem de mediação. No início da Idade Moderna, o código prioritário de leitura e interpretação da realidade, inclusive das alteridades antropológicas, ainda era o religioso; este último englobava todos os outros: o moral, o político, o filosófico (lembre-se a justaposição de fé, lei e rei). Ou seja, qualquer manifestação social da alteridade que a descoberta apresentava era lida sub specie religionis e traduzida na linguagem religiosa
A oposição irredutível presença/ausência de religião, que impossibilita qualquer tipo de mediação retrocedendo na esfera da não-humanidade os selvagens americanos, transforma-se no binômio verdadeira/falsa religião. A partir daí é possível a comunicação e, portanto, a obra de catequese dos selvagens.

MISSIONÁRIOS E PROFETAS
A leitura do outro via código religioso se encaminha desse modo, em trilhas mais conhecidas e percorríveis: a religião do mundo clássico é o referente privilegiado no encontro com as "religiões" ameríndias. E como a primeira sistematização teológica cristã tinha elaborado a noção de "paganismo" a partir da oposição verdade-falsidade, a mesma teologia é projetada nas leituras da religião nativa, que existe, in nuce, mas que é falsa, fruto da manipulação diabólica. É de fato o Diabo, o rei da mentira, que falsifica e corrompe as puras imagens da fé para conquistar as almas dos índios.
Eis, então, o grande antagonista do projeto missionário em terra americana, incontrastável senhor das almas dos pobres índios: o Demônio. Muito já foi escrito sobre a preeminência da chave de leitura demonológica na interpretação dos indígenas do Brasil, fartamente utilizada na literatura quinhentista, principalmente missionária; assim, não me deterei mais aqui sobre esta questão. Basta lembrar que de Thevet a Léry, de frei Vicente de Salvador a Nóbrega, de d’Abbeville a Vieira, todos os homens de fé dos séculos XVI e XVII apontam para o senhorio do Maligno sobre os índios.
Este domínio do Demônio sobre os indígenas se manifesta de uma forma bem precisa: através dos grandes xamãs, os pajés ou caraíbas, que as fontes chamam, obviamente, de feiticeiros e, menos obviamente, de "santos", "santidades" ou, finalmente, de "profetas". Na falta de outros sinais de idolatria, são estas extraordinárias personagens, das quais as fontes não ignoram nem minimizam o poder, os intermediários entre o Diabo e as almas selvagens.
Desde o princípio, os missionários identificam nos caraíbas os inimigos mortais da catequese e, por conseguinte, seus "maiores contrários", para usar as palavras de Nóbrega. São eles que, com suas "cerimônias diabólicas", impedem os índios de se aproximarem da verdadeira fé. São eles que convencem os índios de que o batismo praticado pelos padres provoca doença e morte (o que, em época de grandes epidemias e de batismo in articulo mortis não é difícil). São eles que organizam levantes e fugas dos indígenas das aldeias. São eles que conduzem as grandes migrações em busca de novas terras, talvez de "terras da imortalidade", como diz Gândavo. Enfim, são eles que se opõem com toda a sua força e poder diabólico ao grande desenho catequético de marca escatológica, vale dizer, à realização do grandioso projeto do Reino de Deus na Terra, com o genus angelicum dos índios.
Os inacianos são claríssimos em imputar ao Demônio a ação dos feiticeiros que, porém, não se incomodam em chamar de "santidades", embora tenham quase sempre o cuidado de apontar para a sua falsidade. Na mesma página dos Tratados citada acima, Cardim declara:
Entre elles se alevantarão algumas vezes alguns feiticeiros, a que chamão caraíba, Santo ou Santidade, e é de ordinario algum Indio de ruim vida: este faz algumas feitiçarias e cousas estranhas á natureza, como mostrar que ressuscita a algum vivo que se faz morto, e com esta e outras cousas similhantes traz após si todo o sertão.
Nas Informações das terras do Brasil, Nóbrega também fala das Santidades:
De certos en certo años vienen unos hechizeros de luengas tierras, fingiendo traer sanctidad e al tempo de su venida les mandan a alimpiar los caminos e van los a recebir con danças y fiestas según su costumbre… y otras cosas semejantes les dize y promete, con que los engaña; de manera que creen haver dentro en la calabaça alguna cosa santa y divina, que les dize aquellas cosas, las quales creen. … Estos son los majores contrarios que acá tenemos, y hazen crer algunas vezes a los dolientes que nosotros les metemos en el cuerpo cuchillos, tigeras y cosas semejantes, y que con esto los matamos.13
O texto de Nóbrega é particularmente interessante porque permite desvendar também um fragmento da hermenêutica do "outro". Com efeito, ao acusar os padres de matar os doentes através de objetos inseridos no corpo, os Tupinambá mostram sua leitura da atitude jesuítica no interior de seu próprio sistema de sentido, isto é, em termos de xamanismo.
Passando às outras testemunhas missionárias, que no início da colônia são quase que exclusivamente francófonas, notamos que o termo que traduz para o francês pagé ou caraíba é o de prophète, profeta.
André Thevet intitula o cap. XXXVI das Singularidades: "Dos falsos profetas e magos desta terra, os quais se comunicam com os espíritos malignos." Na Cosmographie Universelle, ele transcreve o mito do herói civilizador, Maire-Monan, um grande caraíba (em outras fontes seu nome é Sumé, ou Zumé, o mesmo que os jesuítas identificaram com São Tomé), do qual ainda se conservam as pegadas numa pedra. A remoção desta pedra está ligada à catástrofe que destruirá o mundo. Assim conclui o franciscano: "Voila la doctrine de laquelle ces Caraibes ont repeu ce simple peuple…lesquel estoient jadis grandes Necromantiens, et sont encore invocateurs des diables.14
A descrição dos rituais dos caraíbas, feita por Jean de Léry, e sua assimilação ao sabá, é tão famosa e citada que não é preciso propô-la novamente aqui. Vale lembrar apenas que em Léry, também, o termo usado é "profeta". A comparação bíblica esclarece as características destes profetas tropicais:
"Esses trapaceiros, em suma, nos aborreciam tanto quanto os falsos profetas de Jesabel que odiavam ao profeta Elias, denunciador de seus abusos."15
O companheiro de Claude d’Abbeville, Yves d’Evreux, intitula um capítulo inteiro de sua obra: "Como fala o diabo aos feiticeiros do Brasil, suas falsas prophecias, idolos e sacrificios."16 Nele, o capuchinho não nega "verdade" às obras dos grandes feiticeiros, mas, através de muitas citações das Escrituras e dos Padres da Igreja, mostra que se trata de obras do Maligno.
Santos, santidades, profetas. Nem sempre os religiosos lembram de esclarecer o caráter de falsidade desta qualidade. Por que, então, os missionários aplicam aos feiticeiros os termos que, em sua cultura, pertencem à esfera do sagrado?
Ronaldo Vainfas enfrenta este problema, com relação ao termo "santidade", a partir das observações de Laura de Mello e Souza sobre a fluidez das fronteiras entre Deus e o Diabo no imaginário (principalmente popular) no início da época moderna, em que freqüentemente a santidade é apenas a falsa aparência da natureza demoníaca. Assim, os missionários trouxeram para a América os dilemas religiosos de uma época em que a necessidade de separar o santo do diabólico era a verdadeira obsessão de inquisidores e teólogos. Este contexto foi rapidamente projetado nos discursos sobre os índios, e neste contexto tem que ser enquadrado o uso do termo "santidade" para indicar as "cerimônias diabólicas" dos caraíbas.17
Na mesma direção de Vainfas, podemos acrescentar alguns elementos, úteis talvez para esclarecer esta "fronteira incerta" entre o divino e o demoníaco na cultura ocidental que se debruça sobre a alteridade americana.
Em primeiro lugar, vimos que os missionários encontram-se diante da necessidade epistemológica de atribuir aos "outros" uma religião, e a exigência prática de estabelecer com esta um diálogo na base da oposição verdade/falsidade. Estas exigências levam à elaboração de uma linguagem que possa dar conta, ao mesmo tempo, da realidade falsa (construída pelo Demônio) e da verdadeira, revelada por Deus e veiculada pelos padres. Vale lembrar, neste sentido, que a Patrística condena a feitiçaria porque falsa, não enquanto ineficaz, mas enquanto eficaz a partir da distorção diabólica do mundo natural. Este aspecto é bem expresso, como vimos, por d’Evreux.
Eis, portanto, que os feiticeiros são os "santos" dos outros e seus embustes são "como dizer coisa divina". É no conflito radical entre a realidade falsa dos feiticeiros e a verdadeira dos padres que podemos acompanhar esta confusão de horizontes devida à utilização de uma linguagem comum.
Francisco Pires, em carta de 1552, relata um sermão de Nóbrega numa aldeia indígena: "diziéndoles el padre que aquella era verdadeira santidad, y diziendo a los principales que se aparjassem para las cosas de nuestro Señor, de parte del Obispo, que era el verdadero ‘Pajé-Guaçu’, que quiere dezir "Gran Padre"18.
Há também outras testemunhas desta "batalha pelo monopólio da santidade", segundo a feliz expressão de Vainfas. Assim, por exemplo, o padre Azpilcueta Navarro inflamava os índios em suas pregações nas aldeias do sertão:
começava a despejar a torrente da sua eloquência, levantando a voz e pregando-lhes os mistérios da fé, andando em roda deles, batendo o pé, espalmando as mãos, fazendo as mesmas pausas, quebras e espantos costumados entre seus pregadores, para mais os agradar e persuadir19.
Da mesma forma, Pero Correa, ainda irmão, relata as indicações precisas recebidas pelo padre Leonardo Nunes em suas pregações nas aldeias: "Por todos os lugares e povoações que passavamos me mandava preguar-lhe nas madrugadas duas horas ou mais; e era na madrugada porque emtão era custume de lhe preguarem os seus Principaes e Pagés a que elles muyto creem."20
Não se trata de iniciativas autônomas, mas da pedagogia jesuítica clássica que se utiliza de elementos da cultura nativa como "linguagem" para veicular conteúdos da fé católica, na mesma linha da utilização do nome Tupã para indicar Deus, ou Jeropari e Anhã para o Diabo, e assim por diante. Sem dúvida, nesta apropriação de certas características dos caraíbas, jogou um papel fundamental a questão do poder. Ou seja, a "batalha pelo monopólio da santidade" foi uma luta mortal pelo poder espiritual, em que os rivais tentaram se apoderar dos instrumentos, dos símbolos, da fala dos outros. Neste sentido, é esclarecedor o exemplo do padre Francisco Pinto, que ficou conhecido entre os potiguaras do Rio Grande do Norte – que ele evangelizou no final do século XVI – como Amanaiara, "senhor da chuva", como eram os caraíbas e, como os dos caraíbas, seus ossos se tornaram objeto de culto entre os índios21.
Há, então, uma sobreposição entre caraíba e missionário procurada, como vimos, pelos padres, mas também construída do lado indígena no esforço de atribuir sentido à nova realidade colonial. Basta pensar na leitura em termos xamanísticos da atitude dos jesuítas, relatada por Nóbrega. É bom lembrar também que o nome caraíba foi dado aos brancos (e este nome ainda hoje os designa em muitas regiões do Brasil) enquanto categoria de alteridade, talvez indicando os heróis culturais cujo retorno tinha sido prometido pelos mitos.
Mas não é tudo. As "santidades" indígenas apropriaram-se não apenas dos signos exteriores, como também da fala dos padres católicos, certos de poder exercer o ministério sacerdotal. O trecho seguinte, tirado da Relação do jesuíta Fernão Guerreiro (1600 a 1609), relata a chegada de uma santidade numa aldeia em que se encontra um padre. Trata-se de um exemplo extraordinário da situação simbolicamente "híbrida", na qual a fronteira entre "eu" e "outro" (e, do lado missionário, entre "lícito" e "ilícito") torna-se sutil e confusa:
Sairam-no todos a recebelo com diligencia e aí começou a entoar uma ravia, de que nada lhe entendemos e cuido que eles mesmos lhe entende, e isto falando ele e respondendo-lhe os outros à maneira de clérigos que rezam coro. Eu também saí de casa três ou quatro passos. Ele estava como quem ensina a doutrina, misturando mil desbarates, como era dizer Santa Maria, tupana, remireco, que quer dizer Santa Maria, mulher de deus, e outros despropósitos semelhantes. Estava posto de joelhos, com os olhos no céu e as mãos levantadas e abertas como sacerdote que diz missa.…Ao dia seguinte me pediu audiencia, saimos ao terreiro, mandei falar um indio nosso principal. Mas respondeu com contar de sua santidade, mas foi tão prolixo que lhe disse eu que não vinha a ser ensinado nem dos seus, senão para lhe ensinar o caminho do céu e que para isso os queria levar para a igreja.22
Logo, estamos perante a leitura da alteridade religiosa nos termos que o horizonte simbólico de cada cultura oferece: neste sentido, a "santidade" para designar os feiticeiros é o oposto especular do termo caraíba para indicar os brancos. Da mesma maneira, na situação colonial, o caraíba Sumé dos Tupinambá é o São Tomé dos missionários. Se o grande caraíba mitológico é o grande santo da tradição católica, não há de estranhar que os caraíbas contemporâneos sejam "santos".
Quanto ao profeta, poder-se-ia dizer, de antemão, que o termo parece em muitos casos utilizado mais no sentido grego (prophetes) de "adivinhar o futuro" através de oráculos, do que propriamente no sentido bíblico de instrumento de Revelação ao povo de Deus. As fontes concordam em frisar o fato de que o caraíba "diz o futuro" a respeito da saúde e da guerra, com a ajuda dos maracás23. Esclarecedora é a passagem de Thevet que define os caraíbas como adeptos da nigromancia, mostrando claramente, e mais uma vez, a negativização da prática pagã, neste caso a oracular, operada pelo cristianismo: quem prediz o futuro fora do modelo bíblico e cristão da "profecia" e da "visão mística" é nigromante, evocador do Diabo.
Propõe-se de novo aqui a dicotomia verdade/falsidade já apontada para o termo "santidade", dicotomia que ganha profundidade a partir de toda a tradição bíblica e cristã dos "falsos profetas", anunciando a vinda do Anticristo na véspera do fim dos tempos. Trata-se exatamente daquela vertente milenarista do cristianismo, imbuída da tradição profética vetero-testamentária e da apocalíptica joanina, até Gioacchino da Fiore, que foi mantida por uma parte dos intelectuais cristãos e teve um momento de grande auge justamente no século XVI.
Esta tradição profética, trazida para o Novo Mundo, se apresenta freqüentemente nos autores que estamos examinando. Já vimos, por exemplo, os versículos de Mateus sobre o fim do mundo no texto de d’Abbeville. Podemos acrescentar aqui que no texto de d’Evreux está claramente dito que a viagem dos capuchinhos e a conversão do gentio da ilha do Maranhão foram profetizadas por santos inspirados pelo Espírito Santo (e aqui está a marca joaquimita) e por Isaías e Sophonia.
Igual "profecia" é atribuída por Thevet aos próprios caraíbas. Depois de ter relatado a comunicação entre caraíbas e l’esprit, ou seja, o Demônio, ele comenta: "Je ne passeray aussi plus outre sur la dispute, si le diable sçait et cognoist les choses futures….Mais un cas vous diray-je bien, que long temps avant que nous y arrivassions l’esprit leur avoit predit nostre venue."24
Por sua parte, Léry põe na boca de um velho índio as seguintes palavras:
(…) há muito tempo, já não sei mais quantas luas, um mair como vós, e como vós vestido e barbado, veio a este país e com as mesmas palavras procurou persuadir-nos a obedecer a vosso Deus; porém, conforme ouvimos de nossos antepassados, nelle não acreditaram. Depois dêsse veio outro e em sinal de maldição doou-nos o tacape com o qual nos matamos uns aos outros25.
Léry relaciona estas palavras com a tradição cristã da pregação do Evangelho às extremidades do mundo antes do Juízo Final; também o huguenote lembra um trecho do Apocalipse para explicar a presença dos dois "profetas": o verdadeiro, no qual os homens não acreditaram, e o falso, que os levou à perdição. Vale lembrar, também, que Mair é o nome com que os tupinambás designavam os franceses. O termo parece ter vivido a mesma "aventura semântica" de caraíba: Maira é um herói cultural da mitologia tupi, cujas ações são, em outras versões, atribuídas a Sumé, justamente um grande Caraíba.
Está claro aqui o jogo de espelhos que se estabelece entre padres e caraíbas, entre verdadeiros e falsos profetas, entre profecias cristãs sobre pregação aos gentios e profecias nativas sobre a chegada dos brancos. Mais do que a uma coincidência de mitologias, estamos dinate do problema epistemológico da compreensão e, portanto, da tradução das alteridades antropológicas no interior do quadro de uma história preestabelecida, de um e de outro lado: pelo mito do herói cultural e pela história da salvação. Isto leva a uma curiosa coincidentia oppositorum, que se expressa através de uma linguagem comum.
As "santidades" e os "profetas" indígenas são, por conseguinte, uma construção negociada. A linguagem religiosa parece tornar-se o terreno de mediação onde cada cultura pode tentar ler a diversidade da outra e onde a alteridade pode encontrar seu sentido e, portanto, sua "tradução" em termos culturalmente compreensíveis. Apenas no interior deste campo semântico me parece possível colocar corretamente e, diante disso, tentar interpretar o problema histórico e cultural posto pelos profetas tupinambás.

NOTAS
* Este trabalho faz parte de uma pesquisa maior em andamento, que conta com o apoio da Fapesp.
1 Entre as obras "clássicas" sobre o profetismo tupi-guarani e o mito da "Terra sem Mal", encontramos: NIMUENDAJÚ, Curt. "Die sagen von der Erschaffung und Vernichtung der Welt als Grundlagen der Religion der Apapocuva-Guarani". In Zeitschrift für Ethnologie. Berlin, 1914, 46, pp. 287-399; MÉTRAUX, Alfred. Migrations historiques des tupi-guarani. Paris, Librarie Orientale et Américaine, 1927; Id. La religion des tupinambás. Paris, 1928 (Ed. bras.: São Paulo, 1950); SCHADEN, Egon. A mitologia heróica de tribos indígenas do Brasil. Rio de Janeiro: MEC, 1959; PEREIRA DE QUEIROZ, Maria Isaura. O Messianismo no Brasil e no mundo. São Paulo: Dominus, 1965; CLASTRES, Hélène. La Terre sans Mal. Le prophétisme tupi-guarani. Paris: Seuil, 1975.
2 Cf. MELIÁ, Bartomeu. El guaraní conquistado e reducido. Asunción: Biblioteca Paraguaya de Antropologia, 1988; Id."La tierra sin mal de los guaraní: economía y profecía". In América Indígena. México, 1989, vol. XLIX; FAUSTO, Carlos. "Fragmentos de História e Cultura tupinambá". In História dos Índios do Brasil (org. M. Carneiro da Cunha). São Paulo: Fapesp/SMC: Companhia das Letras, 1992, pp. 382-396; MONTEIRO, John M. "Os guarani e o Brasil meridional" In História dos Índios do Brasil, Op. cit., 1992, pp. 475-498; VAINFAS, Ronaldo. A heresia dos Índios. Catolicismo e rebeldia no Brasil Colonial. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
3 A análise completa da história dos estudos, a partir deste ponto de vista, encontra-se em outro trabalho (POMPA, Cristina. "O mito do Mito da Terra sem Mal: a literatura ‘clássica’ sobre o profetismo tupi-guarani". In Revista de Ciências Sociais, Fortaleza, 1998, vol. XXIX, nºs 1 e 2, pp. 44-72).
4 O’GORMAN, Edmundo. A invenção da América. São Paulo: Unesp, 1992 (1ª Ed. Buenos Aires, 1958); DE CERTEAU, Michel. L’écriture de l’histoire. Paris: Gallimard, 1975; TODOROV, Tzvetan. La conquête de l’Amérique. La question de l’autre. Paris: Seuil, 1982; em LESTRINGANT, Frank. L’atélier du cosmographe ou l’image du monde à la Renaissance. Paris: Albin Michel, 1991; em GIUCCI Guillermo.Viajantes do Maravilhoso. O Novo Mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 1992; MELLO E SOUZA, Laura. Inferno Atlântico. Demonologia e colonização. Séculos XVI-XVIII. São Paulo: Companhia das Letras, 1993; RAMINELLI, Ronald. Imagens da colonização. A representação do Índio de Caminha a Vieira. Rio de Janeiro: Zahar; São Paulo:EDUSP/Fapesp, 1996.
5 CAMINHA Pero Vaz de. "Carta de Pero Vaz de Caminha".In Pereira Paulo Roberto (org.) Os três únicos testemunhos do descobrimento do Brasil. Rio de Janeiro: Lacerda Editores, 1999, p. 54; NÓBREGA, Manuel da SJ- "Informação das terras do Brasil" (carta aos padres e irmãos de Coimbra; Bahia, agosto (?) de 1549). In LEITE, Serafim. Cartas dos Primeiros Jesuítas no Brasil (1538-1553). São Paulo: Comissão do IV Centenário da Cidade de São Paulo, 1954, vol. I, p. 150; GANDAVO, Pero de Magalhães. – Tratado da terra do Brasil – História da província de Santa Cruz. Belo Horizonte: Itatiaia, 1980. (1ª publ. do Tratado: 1826; 1ª publ. da História: 1576); SOUZA, Gabriel Soares de. Tratado Descritivo do Brasil. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1971 (1584); CARDIM, pe. Fernão S.J. Tratados da terra e gente do Brasil. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1978 (1625), p. 102.
6 THEVET, André. As singularidades da França Antártica. Trad. Eugênio Amado. São Paulo: EDUSP; Belo Horizonte: Itatiaia, 1978, p. 98 (Les singularitez de la France Anctartique, autremment nommee Amerique...Paris: Maurice de la Porte, 1557).
7 LÉRY, Jean de. Viagem à terra do Brasil. Trad. Sérgio Milliet. São Paulo: Livraria Martins Editora, 1960, p. 185, (Histoire d'un voyage faict en la terre du Brésil… La Rochelle: A. Chuppin, 1578).
8 D’ABBEVILLE, Claude OFM. História da Missão dos Padres Capuchinhos na Ilha do Maranhão e terras circunvizinhas. Trad. Sérgio Milliet. São Paulo: EDUSP; Belo Horizonte,Itatiaia, 1975, p. 251 (Histoire de la Mission des Peres Capucins en l'Isle de Maragnon et terres circumvoisines. Paris: Huby, 1614).
9 VESPUCCI, Amerigo. "Nota d’una lettera venuta d’Amerigo Vespucci a Lorenzo di Piero Francesco de’ Medici l’anno 1502 da Lisbona della loro tornata delle nuove terre…" In GASBARRO, Nicola (org.) 1492: …apparve la terra, Milano, Giuffré, 1992, p. 124; id. Mundus Novus. In FIRPO, Luigi (org.). Colombo – Vespucci – Verrazzano. Torino: Einaudi, 1965, p. 88.
10 Para este aspecto cf. BERNAND, Carmen e GRUZINSKI, Serge. De l’idolâtrie. Une archéologie des sciences religieuises. Paris, Seuil 1988. Uma exposição mais aprofundada do uso da categoria do "paganismo" e da "idolatria" como linguagem universal de objetivação da alteridade encontra-se em SABBATUCCI, Dario. Sommario di storia delle religioni. Roma, Il Bagatto 1991, p. 65 e ss. e, sobretudo, em GASBARRO, Nicola. Il linguaggio dell’idolatria, op. cit.
11 THEVET, Op. cit. p. 99.
12 Cf., entre outros, BATAILLON, Marcel. "Novo Mundo e Fim do Mundo". In Revista de História. São Paulo, pp. 343-351, 1954, V (18); PHELAN, John. The millennial kingdom of the Franciscans in the New World. Berkeley: University of California Press 1970; PROSPERI, Adriano. "America e Apocalisse. Note sulla ‘Conquista spirituale’ del Nuovo Mondo". Critica Storica, Roma, XIII (1), pp. 1-61; 1976, DELUMEAU, Jean. Mille ans de bonheur. Une histoire du paradis. Paris: Fayard, 1995.
13 NÓBREGA, Op. cit., p.150.
14 THEVET, André. La cosmographie universelle d'André Thevet cosmographe du roy. Tome II in Les français en Amérique – Le Brésil et les Brésiliens. Paris: Presses Universitaires de France, 1953 (1575) Introduction par Ch.-André Julien, p. 60.
15 LÉRY, Op. cit., p. 195.
16 D’EVREUX, Yves OFM – Viagem ao Norte do Brasil. Trad. Cesar Augusto Marques (1874) Rio de Janeiro: Livraria Leite Ribeiro, 1929 (Voyage dans le nord du Brésil, Paris, Franck, 1864).
17 VAINFAS, Op. cit., pp. 62-63.
18 PIRES, Francisco. "Carta dos meninos órfãos ao Padre Pero Domenech, Lisboa" (Bahia, 5 de agosto de 1552). In Leite, Op. cit., p. 386.
19 VASCONCELOS, Simão de. Crônica da Companhia de Jesus. Petrópolis: Vozes, 1977 (1663), vol. I, p. 221.
20 CORRÊA, Op. cit., p. 220.
21 Cf. FIGUEIRA, Luis. Relação do Maranhão (1608). Introdução, notas e comentários de Thomaz Pompeu Sobrinho. In Três documentos do Ceará colonial. Fortaleza: Departamento de Imprensa Oficial. 1967, p. 107.
22 GUERREIRO, Fernão. Relação anual das coisas que fizeram os padres da Companhia de Jesus nas suas missões nos anos de 1600 a 1609. Coimbra: Imprensa da Universidade, 1929.
23 Os maracás foram os únicos objetos assimilados pelos missionários aos ídolos, constituindo portanto os únicos sinais da "idolatria" indígena.
24 THEVET, Cosmographie, Op. cit., p. 82.
25 LÉRY, Op. cit., p. 196.

Wednesday, October 18, 2006

“O MISTÉRIO DA INIQÜIDADE”
(calqueo ministrado em 12/11/2003 por Jesus Cristo Homem

Segunda carta a Tessalonicenses, capítulo 2. O tema é: “O Mistério da Iniqüidade”. Como começou. Como se propagou. E nós vamos identificar nesta noite.

Segunda carta a Tessalônica, capítulo 2, verso 1. “Mas, com respeito à vinda do Senhor Jesus Cristo, e nossa reunião com ele, vos rogamos, irmãos, que não vos deixeis mover facilmente de vosso modo de pensar, nem vos conturbeis, nem por espírito, nem por palavra, nem por carta como se fosse nossa, no sentido de que o dia do Senhor está...”. Quê?

Paulo está dizendo: -Olhe, não se confundam nem por espírito e nem por carta-, dando a entender que viriam umas cartas, viriam umas epístolas que seriam escritas, que iriam te mover deste modo de pensar. E se você é inteligente, você sabe que Paulo escreveu as cartas primeiro que os apóstolos. As epístolas de Paulo foram escritas. Quer dizer que isto é uma profecia, é uma advertência de Paulo dizendo: -Olhem, virão, como se fossem nossas, parecido com a graça: “Oh, a graça do Senhor seja convosco”. Parecido, mas, não se deixem mover de vosso modo de pensar, como isso de que o dia do Senhor está próximo. Não está próximo, não é agora, não é em meu tempo, não é imediatamente quando eu morrer. Não se deixem mover-.

Verso 3. “Ninguém vos engane em nenhuma maneira; porque não virá, o Senhor, sem que antes venha...”. Quê? Em outras palavras, o Senhor viria depois de quê? Depois da apostasia, não antes. Não se deixem mover como se ele viesse antes, “porque não virá, o Senhor, sem que antes venha a apostasia, e se manifeste o homem de pecado, o filho de perdição”.

Verso 4. “O qual se opõe e se levanta contra tudo o que se chama Deus ou é objeto de culto, tanto que se senta no templo de Deus como se fosse Deus, se fazendo passar por Deus. Não vos lembrais que quando eu ainda estava convosco, vos dizia isto? E agora, vós sabeis o que o detém, a fim de que a seu devido tempo, seja...”. Quê? No momento há quem o quê?

Veja o verso 6. “E agora vós sabeis o que o...”. Quê? “O que o detém…”. Veja o verso 7. “Porque já está em ação o mistério da…”. Quê? Estará em ação? Não! Paulo identifica que esta apostasia, que este mistério da iniqüidade que ele detinha já estava em ação. Quer dizer que isso era no tempo de Paulo, era contemporâneo ao tempo de Paulo.

O verso 7 diz: “Porque já está em ação o mistério da iniqüidade; somente que há quem ao presente o…”. Quê? “O detém, até que ele a sua vez seja...”. Quê?

Veja, preste atenção. O único problema de Paulo eram os apóstolos. Quando Paulo dz: -O mistério da iniqüidade já está em ação. A apostasia já está-, está falando, “a apostasia” é um falso evangelho, é a promulgação de um falso evangelho. Apostasia é se apartar de algo.

E então, os que estavam apartados da verdade, que não andavam retamente conforme à verdade do evangelho, por isso Paulo disse: -Já está. Em nosso meio, “já está em ação o mistério da iniqüidade; somente que há quem, não, no plural; Paulo, um só, quem ao presente o detenha, até que ele...”. Diga: Ele. Viram? É uma pessoa? “Ele a sua vez seja tirado do meio”. Paulo entendia que ele tinha um propósito, mas, quando ele fosse tirado este mistério da iniqüidade iria se manifestar com toda fúria.

Estamos entendendo até aqui? Se vocês puderem fazer o favor, regressemos a Segunda carta a Tessalônica, capítulo 2, verso 8. Encontraram? Diz: “E então, depois que Paulo fosse tirado, então se manifestará aquele iníquo”. Manifestar-se-á aquele, ou seja, se manifestará a apostasia, aquele iníquo. “A quem o Senhor matará com o espírito de sua...”. Quê? O quê? Que o Senhor iria usar uma boca? Com o espírito de sua o quê? “Com o espírito de sua boca, e destruirá com o resplendor de...”. Quê?

Quer dizer, preste atenção, Paulo disse: -Olhe, não se deixem mover facilmente de vosso modo de pensar porque o Senhor não virá sem que antes venha o quê? A apostasia-. Agora, já está em ação o mistério da iniqüidade, somente que ao presente há quem o detenha até que ele a sua vez seja tirado. E quando ele for tirado se manifestará o filho de perdição, vai se manifestar esta apostasia. Mas, logo virá o Senhor e destruirá ao iníquo com o espírito de sua boca. (Aplausos).

Quer dizer que ao final dessa apostasia o Senhor, diga: O SENHOR, o Senhor viria com o espírito de sua boca a destruir ao iníquo, com o resplendor de sua vinda. Esse é este ministério, nosso Apóstolo. Por isso Paulo disse: -Não julguem nada antes de tempo, virá a apostasia. Mas, quando vier o Senhor, ele aclarará o oculto das trevas, ele aclarará as intenções do coração. E essa manifestação do Senhor, essa vinda do Senhor está expressada no apostolado de nosso Apóstolo José Luis De Jesús, que é um “link”, está enlaçada com o apostolado que Paulo pôs. Não são dois apostolados diferentes. É o mesmo apostolado. Por isso, quando você ouve ao Apóstolo é como se estivesse ouvindo a Paulo, é Deus mesmo falando as 14 epístolas porque é o mesmo apostolado.

Diz: “O destruirá com o espírito de sua boca”. Por isso, a guerra que nosso Apóstolo montou ao sistema não é uma guerra de bomba e nem de armamentos carnais, é com o espírito de sua boca. São milícias espirituais, são armamentos espirituais, usando o que está escrito. Usando o que eles usaram para estragar, a letra, usando isto mesmo para destruir a tudo o que não está em linha com a palavra do Senhor.

Vamos agora ao livro histórico dos Atos, capítulo 20 e verso 25. Vejamos como Paulo advertiu isto. Recordem-se que o código está nas epístolas, Paulo deixou tudo escrito, o que acontece é que há um véu que não nos deixa ver, mas, tudo está aqui.

Veja Atos capítulo 20, verso 25. Encontraram? “E agora, eis aqui, eu sei que nenhum de todos vós, entre os quais passei pregando o reino de Deus, verá mais o meu rosto. Portanto, eu vos protesto no dia de hoje, que estou limpo do sangue de todos; porque não deixei de lhes anunciar todo o conselho de Deus. Portanto, velai por vós, e por todo o rebanho em que o Espírito Santo vos pôs por bispos, para apascentar a igreja do Senhor, a qual ele ganhou por seu próprio sangue. Porque eu sei que depois de minha partida...”. Viram? Depois que ele fosse tirado do meio. Lembram-se? O mesmo verso que usamos no livro a Tessalônica, a mesma interpretação? “Porque eu sei que depois de minha partida, vem a apostasia, entrarão em meio de vós lobos vorazes, que não perdoarão ao rebanho”.

Então, Paulo detinha esses lobos vorazes. Paulo detinha esse mistério da iniqüidade. O que é o mistério da iniqüidade? A mescla de Moisés com Jesus de Nazaré. Porque quando se fala de pecado, quando você vai a uma congregação onde falam de pecado: -Irmãos, Deus me mostra que há pecado, Deus me mostra que o diabo prendeu alguém aqui nesta noite. Deus me mostra que há pessoas vivendo em pecado-. Isso nasce do mistério da iniqüidade. Isso nasce da pregação destes falsos apóstolos, que não perdoariam ao rebanho, disse Paulo.

Como não perdoam? Na pregação eles não perdoam. Quando pregam não perdoam à igreja. Apresentam a igreja em pecado, não a apresentam perfeita. Apresentam a igreja debaixo de condenação, não perdoam ao rebanho, sempre a têm em duro trato do corpo e sempre a têm debaixo de maldição. Levando-os a que se portem bem com espírito de temor. Então, Paulo disse: -Mas, isto vem. Depois de minha partida entrarão estes homem vorazes, lobos vorazes que não perdoarão ao rebanho-.

Agora, eu quero que você me acompanhe no próximo capítulo, aí mesmo. Não estou sacando fora do contexto, capítulo 21, verso 17; e isto é te trazendo unicamente as instruções de nosso Apóstolo, que a ele foi revelado isto e nós como bispos e pastores repetimos o que é dado a ele.

Diz o verso 17; Atos 21:17. “Quando chegamos a Jerusalém...”. Encontraram? “Os irmãos nos receberam com gozo. E no dia seguinte Paulo entrou conosco a ver a…”. Quem? Você sabe quem era Tiago, não sabe? Tiago era o irmão de Jesus, filho de Maria. Ou seja, Maria teve outros filhos, não se deixe enganar. Maria tinha um marido, ela se casou com José depois que deu à luz a Jesus, e uma mulher que está casada tem filhos, me entende? Se é fértil, vai ter filhos. E Tiago era irmão carnal de Jesus.

Por isso, tantos galões de que ele é o grande, não está vendo que ele era o irmão carnal de Jesus? E havia estado com Jesus, era um dos discípulos, era um ,dos três grandes que estavam perto dele a cada momento, das colunas.

Então, diz o verso 18. “E ao dia seguinte Paulo entrou conosco a ver a Tiago, e se encontravam reunidos todos os...”. Quê? Todos o quê? Quer dizer que já havia ali uma máfia estabelecida, esta é a máfia religiosa. Vocês sabem que os religiosos são mafiosos, porque se você não faz o que eles dizem, te liquidam. De onde você acha que sai a máfia da política? Isso é uma imitação da religião, porque os religiosos foram os primeiros inquisidores.

Quem foi Pedro? Pedro foi um, que quando uma pessoa foi a beijar a Jesus ele foi e usou um armamento e lhe cortou a orelha. Quem era Pedro? Um que obrigava aos gentios a judaizar. Você não crê como eu estou pensando, pois te obrigamos a crer assim. Isso é uma máfia. Então, já havia em Jerusalém uma organização religiosa entre os apóstolos, os anciãos, os sacerdotes, uma politicagem, onde subornavam, onde obrigavam, onde compravam, onde faziam tramas. E vamos ver uma aqui.

Veja o verso 19. “Aos quais, depois de haver lhes cumprimentado, Paulo, lhes contou uma por uma as coisas que Deus havia feito entre os gentios por seu ministério. Quando eles o ouviram, quando ouviram a Paulo falando dos gentios, do que Deus havia feito entre os gentios, glorificaram a Deus, e lhe disseram: Já vês irmão, Paulo, quantos milhares de judeus há que creram; e todos são zelosos pela lei”. Todos são zelosos por quê? Quantos haviam crido? Milhares. Ou seja, já havia um império levantado. Não estão vendo que toda essa gente trazia, eram obrigados a vender suas propriedades e trazê-las aos pés dos apóstolos? Havia dinheiro e havia poder econômico, havia poder político.

Então, quando Paulo chega, Paulo começa a lhes contar o que Deus havia feito em seu ministério com os gentios, e dizem: “Já vês irmão, Paulo, quantos..., judeus há...”. Mas, se ele não está falando de judeus, está falando dos gentios. E de repente saem eles: -Não, já vês quantos judeus. Somos milhares, e todos são zelosos pela...

Veja o verso 21. “Mas, Paulinho, eles foram informados quanto a ti, que, tu, ensinas a todos os judeus que estão entre os gentios a apostatar de...”. Quê?

Preste atenção. O que Tiago está dizendo aqui é: -Venha cá, Paulo. Temos ouvido as coisas que tu pregas. Temos ouvido que os gentios estão se salvando. Tremendo. Agora, o que há de certo nisto? Ouve-se por aí que tu ensinas aos judeus que estão entre os gentios a apostatar de Moisés-. Como que dizendo: -Isso não deve ser assim. Tu estás pregando isso, Paulo? Porque isso não é correto. Porque aqui somos muitos milhares de judeus que cremos, e andamos ordenadamente guardando a lei. É certo isso que dizem de ti, que tu ensinas aos judeus que estão entre os gentios a que se esqueçam de Moisés? Vêem a forma da pergunta de Tiago?

Diz o verso 21, outra vez. “Mas, eles foram informados quanto a ti, que tu ensinas a todos os judeus que estão entre os gentios a apostatar de Moisés, dizendo-lhes que não circuncidem a seus filhos, e nem observem seus…”. Quê? –É certo, Paulo? Diga-nos aqui frente a todos. É isso mesmo? Que tu estás pregando e ensinando a que não observem os costumes de Moisés, e que não circuncidem a seus filhos, e que apostatem de Moisés? Queremos saber se é isso?

Estão entendendo? Ou seja, eu estou tratando de reviver o que aconteceu ali para que você entenda. Porque isto é história, isto é história, mas você pode apresentar outro lado da história. Um repórter pode apresentar um lado da história, e outro repórter pode apresentar outro lado. Entende? Mas, na forma que eles o apresentaram é: -Venha cá, aqui, os que reinamos aqui em Jerusalém somos nós. Ou seja, aqui, este território é nosso, é da lei, e se ouve que tu estás ensinando aos nossos a que apostatem da lei. Estás contra ao que nós pregamos. É isso mesmo, Paulo? É certo que tu estás ensinando a que não observem aos costumes, aos que nós observamos, que não os observem? Os que nós ensinamos, que apostatem disso, é isso mesmo, Paulo?

Então, no verso 22, diz: “O que há, pois? A multidão decerto se reunirá, porque ouvirão que vieste”. Em outras palavras, Paulo era muito conhecido e eles queriam aparentar bem com Paulo, mas, ao mesmo momento estavam contra a sua doutrina. Viram a hipocrisia? –O que há de certo, porque as pessoas virão a te escutar? Virão. Já sabem que tu vieste.

Verso 23. “Faz, pois, isto que te dizemos”. Olhe Paulo, vamos te recomendar isto: “Há entre nós quatro homens que têm obrigação... de cumprir voto”. Vejam a recomendação que deram a Paulo. –Paulo, olhe, este território nós já cobrimos. Vamos te dar uma recomendação, olhe: Há quatro varões na nossa congregação que têm obrigação de voto-. Estes são os apóstolos da igreja. A que te soa isso: Obrigação de cumprir voto? Isso não é novo pacto. Como que isso de obrigação de cumprir voto? Cumprir o quê? Se Jesus Cristo com uma só oferta fez perfeito. Todos os rudimentos e festas, e rudimentos que haviam de ser cumpridos, foram cumpridos em Cristo Jesus.

Quando você está em Cristo, você está completo. Você não necessita de cumprir nada mais, nele estamos completos. O fim da lei é Cristo. Quando você crê em Jesus Cristo, você está completo. Não faz falta cumprir nada, porque nele estamos o quê? Mas, eles não estavam nesse evangelho. –Há quatro varões que têm obrigação de cumprir voto-.

Verso 24. “Toma-os contigo, purifica-te com eles…”. Olhe, que tipo de recomendação. Você já escutou essa canção bem linda que diz: ♫“Purifica-me, limpa-me, Senhor”, soa muito bonito, verdade que sim? E as pessoas levantam suas mãos e dizem: “Purifica-me (fazendo som de choro). Limpa-me, Senhor”. Isso vem daí. Isso é um espírito. E se você se deixa enganar, você é enfeitiçado com esse espírito, e você fica duas horas envolvido nisso: Purifica-me, Senhor. Purifica-me. E você jura que está na presença de Deus, no Espírito, e estás em outro espírito.

Então, essa é a recomendação dos grandes apóstolos: “Purifica-te com eles, paga seus gastos...”. Olhe, que bárbaro. Daí é que sai a chamada “indulgência”, que as pessoas pagam uma moedinha para tirar alguém do limbo. Paga seus gastos. “Paga seus gastos para que raspem a cabeça; e, Paulinho, não há problemas, todos compreenderão que não há nada do que foram informados acerca de ti, senão, que tu também andas ordenadamente, guardando a lei”.

Tranqüilo, Paulo, temos tudo arranjado. Olhe, estes homens eram maus. Estes homens são maus. Eles trabalham com hipocrisia, com simulação, com dupla cara. –Oh, Paulo. Que bom. Tremendo. Que bom te ver. Quantos gentios creram por teu ministério? E depois o tranco, o cheque mate.

Então, lhe disseram: -Paulo, faz isto que te dizemos e todo mundo vai compreender. Todo mundo se vai dar conta de que o que se diz de ti não é verdade, porque tu também estás como nós, ordenadamente guardando a lei.

Agora, aí mesmo, sem sacar fora do contexto, o próximo capítulo, o capítulo 23, dois capítulos mais; capítulo 23, verso 12. O que diz o título dessa seção aí? Complô contra quem? Contra Paulo. Diz o verso 12. Encontraram? 23:12? “Vindo o diz, alguns dos judeus tramaram um complô e se juramentaram debaixo de maldição, dizendo que não comeriam e nem beberiam até que dessem morte a...”. Quem?

Agora, preste atenção. Quem fez juramento debaixo de maldição dizendo que não comeriam e nem beberiam até que matassem a Paulo? Os judeus. Agora, estes judeus são dos milhares de judeus que haviam crido pela pregação dos apóstolos, dos mesmos judeus. Estes, são judeus zelosos pela lei, que encontram um Paulo pregando que o fim da lei é Cristo, pregando que o ministério da lei é um ministério de condenação, e quando ouvem a Paulo... São filiados das congregações dos apóstolos e se levantam e fazem juramento: Vamos matar a Paulo.

De onde sai esse zelo deles, de dizer: Tem que matar a Paulo? De onde sai isso, senão de uns mestres que infundem esse mesmo espírito a seus discípulos?

Igreja, eu quero nesta noite, é o sentir de nosso Apóstolo que seja tirado da mente esse espelhismo, esse idealismo dos santos apóstolos de Cristo. Estes homens eram malvados, eram enganadores, eram falsos, perversos. Oh, não passava vinho por sua boca. Oh, marido de uma só mulher. Mas, enganadores quanto à doutrina, transtornavam casas inteiras.

Bem, você sabe o que é obrigar a um gentio a judaizar? Isso é uma falta de respeito. Isso é uma falta de respeito. Subornar. Enganar: -Paulo, faça isto que te dizemos e as pessoas vão pensar que tu andas conosco-.

Igreja, eu falo a você que está nos escutando pela televisão, pela Internet: Desperta deste feitiço. Paulo profetizou: -Depois de minha partida vão entrar no meio de vós lobos vorazes, que não vão perdoar ao rebanho. Estes são homens maus. Virá a apostasia, o homem iníquo-. DESPERTA! “You’ve been bewitched”. (Te enganaram).

-Oh, o santo apóstolo Pedro, o santo apóstolo João-. Fazem estátuas a eles, fazem estátuas a eles, fazem monumentos a eles. Estes homens foram os que danificaram o mundo, e as pessoas seguem dando crédito a eles.

Igreja, o mistério da iniqüidade foi promulgado por estes homens. Paulo disse: -Depois que eu morrer, vai se manifestar, não há quem o pare-. E assim foi. Quando Paulo morreu, estes homens chegaram com o falso evangelho a Espanha e a todas as nações.

Então, agora se encontram 40 homens em Jerusalém, judeus, crentes que fazem juramento e dizem: -Temos que liquidar a Paulo-. Por quê? O que Paulo pregava que tinha que ser liquidado? O que havia na pregação de Paulo que ia contra os judeus? O que fez com que 40 homens judeus fizessem juramento que teriam que matar a ele, senão que a pregação de Paulo era de que tinham que apostatar de Moisés? É a mesma pregação de Papi, de nosso Apóstolo. –Apostatem de Moisés. Apostatem dessa mente mosaica, judaica que estraga tua família, estraga tua mente, estraga teu trabalho, transtorna tua casa inteira-.

Por isso nós estamos utilizando todo meio para reformar o mundo. Olhe isto. Começamos nas quatro paredes, começamos dentro da congregação, mas, já saímos. E vamos entrar no mundo comercial, e vamos entrar no mundo artístico, e vamos entrar no mundo da empresa, e vamos entrar em todos os meios de comunicação, a educação. (Aplausos). Tudo, a tecnologia.

Vamos usar tudo para que a palavra corra e seja glorificada. E vamos ficar com o mundo. Nosso Apóstolo regerá o mundo com este evangelho da graça, porque não há outro evangelho.

Agora, isto estava profetizado: “Já está em ação e há quem o detenha, até que ele a seu tempo seja tirado, e se manifeste o filho de perdição”. Manifestou-se. Paulo disse: -Quando eu for tirado, virão os lobos vorazes-, isso era profetizado. Mas também Paulo disse: -Um momentinho, eu ponho o fundamento e virá a apostasia, mas, virá outro a edificar em cima. Virá outro a edificar em cima. Quando vier o Senhor, ele destruirá ao iníquo com o resplendor de sua vinda e com o espírito de sua boca. Vem! (Aplausos). Na ultima trombeta, o Senhor mesmo em voz de arcanjo, com trombeta de Deus! (Aplausos).

Quando vier o Senhor, achará fé na terra? Lembra de que Jesus disse: -Quando vier o Senhor, achará fé? Não achou fé. Claro, porque estava profetizado que iria achar apostasia. Por quê você se pergunta: Olhe, e por quê isto não surgiu antes? Por quê agora? Simples. Porque tinha que se manifestar a apostasia e na apostasia Deus não falou. Houve um silêncio de Deus. Deus não edificou. É difícil para você entender isso? Que Deus não falou por 2000 anos? Esse é um comportamento repetitivo de Deus. Deus já havia guardado silêncio por quase 500 anos no antigo pacto, não falou, não houve profetas.

E repetiu o mesmo. Depois que Paulo morre, diz: -Virá a apostasia, mas, ao final, quando vier o Senhor-. O Quê? Ele não viria antes? O quê? Que nesses 2000 anos o Senhor não estava? Mas, ao final, quando vier o Senhor... O quê? Antes não estava?

Igreja, desperta. É que estas são coisas que estavam escritas, e é um código. O que é um código? Escrito. O que significa código? Que está escrito. Ou seja, não é que você olha: -Não, é esta, olhe ao contrário que tem a letra J; e junte com a outra letra ao contrário e J e A-. Não, não é isso! Código. Código significa escrito. Você sabe por quê é um código? Porque você lia e não entendia. Por isso é que era um código. E você lia e passava por cima da cabeça. Porque a fé não é pelo ler, é pelo ouvir. Tem que haver uma boca, “o espírito de sua boca”. Tem que haver um meio, uma boca que Deus usa para te sacar este código. (Aplausos).

Como crerão se não há quem pregue a eles? Como ouvirão? Então, esta apostasia estava profetizada. Paulo profetizou, mas, eu quero que você identifique quem são os que estão trazendo essa apostasia. Eram os apóstolos. Ou seja, Paulo não tinha problemas com os bruxos da cidade. Paulo não tinha problemas nem com os feiticeiros, nem com os santeiros daqueles tempos. O problema de Paulo era os grandes apóstolos, que ele os chamou de falsos apóstolos.

Então, veja o verso 13, Atos 23:13. “Eram mais de quarenta os que haviam feito esta conjuração, os quais foram aos principais sacerdotes e aos...”. Quê? Esses anciãos são os mesmos que estavam reunidos em Jerusalém com os apóstolos? Você se lembra que Lucas disse: -E quando Paulo entrou estava Tiago, e com ele reunidos todos os o quê?

Pois, veja-os aqui. Verso 14. “Os quais foram aos principais sacerdotes e aos anciãos e disseram: Nós nos juramentamos debaixo de maldição, a não comer nada até que tenhamos dado morte a Paulo. Agora, pois, vós, com o concílio, requerei ao tribuno que lhe traga amanhã ante a vós”. Viram os planos?

Olhe, isso é uma máfia, igreja. Isso é um clã, um complô. Mas, preste atenção. Quem foi os que levantaram estes judeus com esse zelo de que se tinha que eliminar a Paulo? Ah, mas quando os apóstolos se encontravam com Paulo. –Paulo. Que bacana. Olhe, que bom te ver. Como foi tua viagem? E Paulo de limpa consciência: -Não, tremendo, rapaz. Os gentios creram, a palavra está correndo. –Que lindo, Que bacana, mas, se manda daqui. Tu és uma ameaça para nós-.

Então, estes homens fazem esse complô e falam com os anciãos. E diz o verso 15. “Agora, pois, vós, com o concílio, requerei ao tribuno...”. Politicagem. Viram? “Que lhe traga amanhã antes a vós como se quereis indagar alguma coisa mais certa acerca dele; e nós estaremos prontos para matar-lhe antes que chegue”.

Olhe, com os religiosos você não pode contar, ou seja, os religiosos são mafiosos. Olhe, uma pessoa religiosa por sua religião, por cuidar do seu ventre faz qualquer coisa. Por isso é que nosso Apóstolo anda com seguranças. Em todos os países aos quais ele viaja, ele anda com seguranças. Não porque não cremos na cobertura de anjos. Há anjos que o protegem, sem corpo e com corpo, porque estes homens são maus. Olhe, o sistema religioso de hoje quisera ver a cabeça de nosso Apóstolo cortada. Sabia disso? Eles gostariam que ele não vivesse, e fariam o que tivessem que fazer por isso. Ele recebeu ameaças, claro.

Olhe, uma pessoa que não está chamada a falar contra este sistema, se não está respaldada por Deus, a liquidam. Mas, como nosso Apóstolo foi chamado a derrubar esse sistema, não há quem o toque. Não há quem o toque. (Aplausos).

Ainda que ele esteja disposto a dar sua vida, mas, não há quem o toque. Como nós. Você está disposto a dar a sua vida pela verdade? Pss! Por isto. Se eu dava pela lei que era uma porcaria, não iria dar por isto aqui? A lei que me transtornou a mente, me estragou todo; não a darei pela verdade?

Olhe, a religião é o ópio dos povos. A religião é o que trouxe a pobreza, enfermidades, guerra. Essa guerrilha da Colômbia, procure a raiz disso, se chama religião, Roma. A guerra que houve na Nicarágua dos guerrilheiros de Nicarágua, procure, os sandinistas, a origem, a religião. Por quê se levantam formas de governo diferentes? Por causa da religião. Homens que estão cansados da religião. Mas, você não pode utilizar armamentos carnais, tem que ser o armamento do espírito.

Então, este complô foi manejado pelos apóstolos, porque eles tinham conexões com o tribuno, com os sacerdotes, com os anciãos. Viram? Havia uma politicagem ali.

E vejam o verso 16. “Mas o filho da irmã de Paulo...”. O filho de quem? Paulo tinha uma irmã. ALÔ! “Mas o filho da irmã de Paulo, ouvindo falar acerca da cilada, foi e entrou na fortaleza, e deu aviso a Paulo”. Vejam bem que há anjos, há anjos com corpo que protegem também.

Agora, o próximo capítulo, 24, verso 13. Encontraram? “Nem podem te provar as coisas de que agora me acusam”. Paulo já estava preso, e ele disse: -Não podem te provar-, falando a Félix.

Verso 14. “Porém isto te confesso, que segundo o Caminho que eles chamam de heresia, assim sirvo ao Deus de meus pais, crendo em todas as coisas que na lei e nos profetas estão...”. Quê? Preste atenção. Quando Paulo é levado ao paraíso, e ele recebe essa revelação de Jesus Cristo, Paulo entendeu que isso foi o que os profetas disseram. Porque Paulo era um doutor na lei. Paulo foi educado aos pés de Gamaliel. Paulo não era nenhum ignorante.

Os apóstolos sim, os apóstolos eram uns torpes, ignorantes do vulgo, diz que eram do vulgo. Brutos. Eles não conheciam a escritura. Por isso, foi que Jesus Cristo escolheu 12 homens ignorantes, que não conheceram nada, para que se promulgasse o mistério da iniqüidade. Eles não conheciam a Escritura. Paulo sim, Paulo era um doutor na lei, educado aos pés de Gamaliel. E quando Paulo recebe a revelação, ele entende: -Ah, isso foi o que disse o profeta. Isso foi o que Isaías profetizou. Isso foi o que disse Jeremias-. Porque Paulo conhecia a letra da lei.

Por isso Paulo disse: -Olhe, estes homens a mim, nada de novo me comunicaram. Mas, se eu era melhor do que eles. Eu conheço essa lei. Os de reputação nada novo me comunicaram. Paulo foi o único homem que entendeu a revelação do mistério da graça, mistério do novo pacto. E estes homens estavam contra Paulo.

Olhe, você sabe o que eles faziam? Quando Paulo levantava uma congregação, Paulo tinha que ir porque havia outras congregações, como apóstolo, ele tinha que ir confirmando. Quando ele saía, eles entravam, e buscavam os que davam mais dinheiro. –Olhe, chame por telefone a fulano, porque ele tem uma empresa de carros. Chame a cicrano que este dá muito dinheiro, tem uma boa casa-. Assim é que o sistema trabalha.

Você sabe por quê eles se molestam conosco? Não, porque pregamos a verdade, é porque as pessoas estão saindo deles. A eles não interessa a palavra, o que lhes interessa é o ventre, o dinheiro, o cash (dinheiro vivo). Se o cash está aí, que siga pregando José Luis. Mas, se o cash deixa de entrar a eles, têm que fazer José Luis parar, tem que detê-lo.

Quem foi os que sacaram o Apóstolo da rádio anos atrás? O sistema. Não foi o bruxo. Eles não têm problemas com o bruxo. E mais, o bruxo pode até estar com eles. Venda um programa ao bruxo, não lhes importa. Antes e depois pode estar um feiticeiro, um bruxo, um astrólogo e não há problemas: -Aqui somos os servos de Deus-. Mas, venda um tempo a José Luis, ao Apóstolo. –Não! A esse sim, não o queremos aqui-. Por isso é que Deus usa tudo isso. Sabe por quê? Porque agora nós vamos comprar nossos próprios canais de televisão, nossas próprias emissoras. Não necessitamos disso. (Aplausos).

Olhe, eu quero te ver com zelo. Eu não te quero: -Beeeem, o Apósssstolo é... A história diz... Vamos ver-. Não! Não! Não! Aqui você não pode estar com isso. Aqui, quando te agarrarem: -De quem tu és? –Bem, eu vou às vezes, mas eu estou de longe. Você se lembra de Pedro, quando o prenderam? –Eh, tu falas como os de Jesus. –Não, não, eu nem o conheço. –Sim, sim, mas te vimos na semana passada. –Não, eu não sou desses. –Mas, se você fala como um deles. E começou até a falar mal. –Não. Como que eu falo como eles? Não, eu não conheço a esse homem-. Mas, era para salvar sua pele, para salvar seu ventre.

Olhe, um ventrudo não cabe aqui. Um que tem ventre, que ame mais seu ventre do que a verdade, não cabe aqui. Esse zelo lhe incomoda, lhe incomoda este zelo, porque aqui ele não pode se esconder. Aqui só cabem os amadores de verdades, os que amam a verdade mais do que as suas próprias vidas. (Aplausos).

Olhe, se eu era zeloso pela lei, por quê não pela graça? Ha! Ha! Ha! Eu era zeloso pela lei. Não havia quem tocasse na lei. Eu dava minha vida. Imagine que até minha carreira, uma carreira de ópera que eu tinha, a entreguei por um Sábado, por um trapo de Sábado. Você sabe o que é isso? –Oh, não, não. E ofertas do Metropolitan Opera House, e ópera, e viajar. –Não, porque se for Sábado eu não vou-. Olhe que bruto. O que acontece é que tudo estava dentro do plano predestinado, porque não era lá que eu tinha que chegar, era a... Eeeeeehe! É DEBAIXO DESTA PALAVRA PODEROSA. É COM A VERDADE DO EVANGELHO, E DAQUI, ENTÃO, CHEGAMOS LÁ. (Aplausos).

Olhe, eu quero que você tenha zelo. Olhe, essa gente nos fodeu..., e você vai continuar deixando que te batam pela cabeça? (Aplausos). Ah? Seguir dando dinheiro, e não definindo a teus filhos nesta verdade, não se definindo para que a cobertura angelical funcione em tua vida? Eu necessito que tu despertes. Nosso Apóstolo necessita que tu despertes, porque ele declarou guerra, e eu estou em pé de guerra. O capitão disse, e eu estou preparado para a guerra. (Aplausos). ALÔ!

Com o que está escrito, com a palavra de seu poder, e vamos nos gastar a nós mesmos e ao que temos. De que te vale um milhão de pesos no banco e não respaldar esta verdade? Olhe, se você não respalda a verdade, você é como um animal, que come e defeca. Você já viu um animal? Que come e não lhe importa, Pap! E defeca, onde come. Pois, uma pessoa que não está pela verdade é como um animal desgovernado: Come, se levanta e não tem um propósito em sua vida. Nós fomos criados para o louvor da glória de sua graça. (Aplausos).

Se você é um carpinteiro, se você é um professor, se você é um médico, se você é um carpinteiro, um mecânico, pois veja, use isso para que a palavra corra. Porque se não, vai ser um cara chato toda sua vida.

Então, vamos dois versos mais; Atos, 28. Não estamos sacando fora de contexto. Atos 28:28. Encontraram? “Sabei, pois, que aos gentios é enviada esta salvação de Deus; e eles, ouviram…”. ALÔ! Eles o quê? O que Paulo dizia: -Olhe, os gentios ouvirão-. Está falando de ti e de mim. “E quando disse isto, os judeus se foram, tendo grande discussão entre si. E Paulo permaneceu dois anos inteiros em uma casa alugada, e recebia a todos os que a ele vinham, pregando o reino de Deus e ensinando acerca do Senhor Jesus Cristo, abertamente e sem impedimento”.

Vamos terminar com Romanos 15:24. Encontraram? “Quando for à Espanha...”. Quando for aonde? “Irei até vós”. Quem é vós? Quando Paulo disse: -Quando for à Espanha, irei a vós-. Quem eram “vós”? Os romanos. “Porque espero vê-los ao passar, e ser encaminhado lá por vós, uma vez que tenha me gozado convosco”.

Verso 28. “Assim que, quando tiver concluído isto, e lhes tenha entregue este fruto, passarei entre vós rumo a...”. Quê? Preste atenção, igreja. Paulo ia para Roma e de Roma iria passar à Espanha, mas, a história diz que Paulo chegou a Roma, mas não chegou à Espanha. Mataram-no em Roma. ALÔ! Diga: ROMA. Por quê em Roma? O que se iria levantar em Roma que teria que dar morte a Paulo ali? O papado romano.

Olhe, preste bastante atenção. O papado romano é uma imitação dos apóstolos. Os apóstolos tinham o mistério da iniqüidade onde eles manipulavam, obrigavam, simulação, hipocrisia, ganhos desonestos. E isso mesmo se repete no papado romano de hoje. Então, nos anos não sei o quê sai a igreja, chamada protestante que protesta desse papado romano, mas, carregam o mesmo veneno. Quer dizer que os evangélicos são iguais aos romanos católicos.

Então, quando Paulo vai a Roma o matam em Roma e não chega à Espanha. Mas, ao não chegar à Espanha, quem chega à Espanha são os apóstolos com o falso evangelho. E então, da Espanha sai este criminoso Cristóvão Colombo que todo mundo venera e até lhe cantam nas escolinhas. –Oh, o grande Cristóvão Colombo-. Um criminoso também, acompanhado destes sacerdotes que vinham com o evangelho da circuncisão, com esse mistério da iniqüidade; chegaram a nossos países e obrigaram aos índios a crer. Matavam-nos. A história diz isso, igreja. Leia isso em qualquer biblioteca. Chegavam e obrigatoriamente havia que crer na fé católica. Sim ou não?

A inquisição. O que é a inquisição? Isso é um tema que está em silêncio. Nisso não se toca. Ninguém se atreve a tocar nisso porque o liquidam, o calam. –Nisso não se pode tocar. Isso é, sssss! Isso é tabu-. Até estes tempos, já não é mais tabu, já não é mais segredo. E olhe, em Cartagena, Colômbia, há um grande Museu, olhe, é uma propriedade do Estado, um patrimônio: -Ai, vão a ver o Museu da Inquisição. E te vendem fotos e estátuas. E você vai contente: -Eu vi o Museu da Inquisição. Que lindo é aquilo-. E era onde obrigavam, os católicos obrigavam as pessoas a crer neles. Arrancavam as unhas, arrancavam a língua, arrancavam os olhos.

Mas isso não é nada novo. Pedro era assim. Diz que Pedro obrigava aos gentios a judaizar, e isso não é nada novo. Paulo profetizou isso: “Depois de minha partida virão lobos vorazes que não perdoarão ao rebanho”. E estes homens chegaram a nossos países, e estragaram nosso povo. –Oh, o grande colonizador, descobridor da América-, e levaram a um representante dos apóstolos com eles, na Pinta, na Nina, e na Santa Maria. E ali chegaram com o santo evangelho dos apóstolos, e estabeleceram suas estacas. E hoje em cada uma de nossas cidades há uma catedral representante desse falso evangelho. Isso é um papado.

Olhe, nosso Apóstolo estava dizendo que em Costa Rica, o Governo de Costa Rica dá milhões à Igreja Romana, à Igreja Católica. Por isso é que quando eles passam a recolher as ofertas: -Não importa, dê cinco, como queira virão milhões de outra parte. Não importa. Você dá o que você quiser, que lá o que nós gostamos é o que vem de...-. Bebem do vinho de seu furor. Isso é uma mercadoria, isso é uma máfia. Mas, isso vai desaparecer.

Atente bem. Um dia isso vai cair. Levantou-se porque Deus assim o quis. Estava predestinado que se levantasse, mas, assim como estava predestinado que se levantasse, será destruído com o Espírito de sua boca, com a vinda do Senhor. E eu vou estar ali para ver isso! Eu vou estar ali para respaldar essa palavra. (Aplausos).

E você? Vai estar ali? “Don’t get quiet on me now”. (Não fique calado agora). Não te intimides pelos que se opõem que para eles isto aqui é indício de perdição, mas, para nós é de salvação, e isto, de Deus.

Quando eu vejo um irmão que está, -Bem, sim, que veveeve-, que não tem zelo, tenha cuidado porque é perigoso. Quando eu vejo a um pastor que não tem calças para se definir nesta doutrina, se definir na verdade é necessário ter cuidado com ele. Tem ventre. Cheira a ventre. E você, se estás me escutando pela Internet, e pela televisão, você tem que se definir: ou, és um assalariado, ou és um servo de Jesus Cristo chamado a pregar o evangelho. Ou, mulher, pode ser uma mulher pregadora, não importa, mulher ou homem, mas, fazem falta homens e mulheres valentes.

ALÔ! Há guerra. Há guerra. Vamos ficar com o mundo inteiro. Quantos recebem isso? Quantos crêem? (Aplausos).

ABA PAI! Ponha-te de pé, igreja. Diga a teu irmão: NÃO QUERO NADA, COM O QUE TENHA A VER COM O MISTÉRIO DA INIQUIDADE. Diga-o: QUERO A VERDADE.




Saturday, October 14, 2006


LIMBO etc.

O sistema religioso agarra uma família e diz:: -Seus filhos já se batizaram? Olhe, porque se não estão batizados se morrem vão ao limbo-. Que limbo? A Bíblia não fala disso. –Que se o purgatório...- A Bíblia não fala disso. Há tantas coisas que a Bíblia não fala , mas as religiões sim falam. Tudo isso gera culpabilidade, medo, desesperança, o uso de uma linguagem incompatível com a cobertura de anjos do novo pacto. Isso tudo se entranha nas pessoas, nas famílias, nas empresas, nas cidades, nos estados, nos países, no concerto das nações, nos sistemas políticos, nas políticas públicas, todos se conformando com o século e desconhecem qual seja a boa, agradável e perfeita vontade do Senhor. A apostasia reflete o conjunto das religiões agindo, influenciando, mentindo, disseminando um outro espírito, um outro evangelho, um outro Jesus. Todos estão antes da cruz. O judaismo está plasmado em suas vidas, estão no pacto que já foi abolido, que já terminou, pois Cristo é o fim da lei. Vejamos abaixo uma pérola recentíssima do fulcro da apostasia:

Matéria publicada em estadão.com.br
Mundo
03 de outubro de 2006
Papa aceitará conclusão que subverte crença sobre Limbo

A ponderação seria que Deus deseja que todas as almas sejam salvas; o pontífice aprovará formalmente as conclusões da comissão em uma missa na sexta-feira
SÃO PAULO - O papa Bento XVI irá, nesta semana, subverter uma antiga crença sustentada pelos católicos romanos desde os tempos medievais ao abolir o conceito de Limbo, informou a versão on-line do jornal The Times.
O Limbo é considerado, religiosamente, o lugar onde as almas das crianças vão se morrem antes de serem batizadas. Lá são liberadas do pecado original. É também para lá que vão as pessoas ditas sagradas, como Abraão, que viveram antes de Jesus.
Esta semana, uma comissão de 30 teólogos do Vaticano vão começar as considerações finais a respeito do Limbo. De acordo com o Times, fontes dentro do Vaticano disseram que a comissão teria chegado à conclusão de que todas as crianças que morrem obtém a salvação divina e a "mediação de Cristo", sejam elas batizadas ou não.
A ponderação seria que Deus deseja que todas as almas sejam salvas, e que as de crianças não-batizadas cabem a um "Deus misericordioso", cuja forma de ação não pode ser conhecida. O papa aprovará formalmente as conclusões da comissão em uma missa na sexta-feira.
O processo para se "desfazer" do conceito de Limbo começou no fim do papado de João Paulo II. O antigo papa teria tido apoio de Joseph Ratzinger - antes cardeal, agora papa - que considerava que o Limbo "nunca havia sido uma verdade definitiva da fé".

Wednesday, October 11, 2006


Vade retro satanás!
Márcia Moisés Ribeiro

A difusão da prática do exorcismo na América portuguesa foi favorecida pelos rituais indígenas e africanos e pela precariedade da medicina colonial

Nem sempre o diabo teve patas de bode, chifres, rabo e cheiro de enxofre. Antes abstrato e teológico, foi durante o Renascimento que ele ganhou forma nas paredes e capitéis das igrejas. O medo do diabo foi então se alastrando pelo Ocidente de uma forma mais vista, e a partir do século XVI uma verdadeira obsessão satânica tomou conta do imaginário europeu, com impressionante conjunto de imagens do inferno e seus horrores invadindo a Europa. Ao mesmo tempo, a cultura escrita difundia o medo do demônio tanto nas publicações populares quanto nas obras eruditas. Assim, mascates, ambulantes e afamados mágicos negociavam folhetos e brochuras ensinando como fugir das armadilhas diabólicas, enquanto teólogos e doutores da Igreja se dedicavam aos inúmeros tratados de demonologia escritos a partir da época.
Essa vasta literatura dedicada aos poderes diabólicos ganha impulso com os surtos de possessão demoníaca coletiva que se tornaram famosos pelo continente, principalmente na França e na Inglaterra do século XVII. Tais obras mostravam o diabo como capaz de alterar o curso dos céus e realizar tudo o mais que pudesse perturbar o natural andamento do cotidiano. Por meio dos feiticeiros – seus grandes aliados -, podia matar o gado e lançar-lhe doenças, tornar estéreis campos que antes eram férteis e ainda destruir as colheitas. Dado o imenso poder que lhe era atribuído, muitos o chamavam de “príncipe deste mundo”. Além da intervenção do curso da natureza, a ação diabólica atingia o corpo e a alma dos homens, fazendo dos sãos pessoas doentes, e dos lúcidos, espíritos imundos e perturbados.
A Igreja católica sempre ofereceu armas celestiais contra o diabo, porém foi durante a onda de satanismo do Renascimento que os meios de combate, especialmente os exorcismos, ganharam destaque. Sua origem perde-se na noite dos tempos, e diversos povos da antiguidade já se valiam desses ritos para expulsar espíritos considerados malignos. Dentre as armas desenvolvidas pela Igreja católica contra o demônio estavam as orações, o culto aos santos, as imagens miraculosas, as relíquias, a água benta e sobretudo os exorcismos considerados o meio mais eficaz de combatê-lo.
Portugal e suas colônias também conheceram a difusão dos ritos de expulsão demoníaca, embora em escala menor que entre ingleses e franceses. Os exorcismos eram regulamentados por tratados específicos e, apesar de nenhum desses livros serem de origem lusitana, as principais obras que circularam na Europa sobre o assunto foram traduzidas para o português. Afinal, era grande o número de indivíduos que se diziam possuídos pelo diabo e, consequentemente também o de exorcistas que atuaram no império português a partir do século XVII. O objetivo desses livros era impor regras às funções dos exorcistas, evitando assim que seu desempenho fosse confundido com rituais supersticiosos. Entretanto, as normas destinadas a regulamentá-los estiveram longe de serem obededecidas.
De acordo com os manuais de exorcismo, um dos sinais mais evidentes da possessão diabólica era o conhecimento de línguas estrangeiras sem nunca tê-las aprendido, principalmente o latim. Outros sintomas seriam a faculdade de saber de fatos que se passaram em lugares distantes, a adivinhação e a capacidade de praticar ações sobrenaturais – levitar, mover objetos sem tocá-los etc. Havia ainda outros indícios. Difundia-se a crença de que os endiabrados tinham verdadeira repugnância por objetos e imagens sagrados, que se sentiam muito incomodados durante as orações e leitura do Evangelho e que a figura do sacerdote lhes causava verdadeiro pavor.
As denúncias e processos da Inquisição movidos contra curandeiros e supostos feiticeiros mostram que, na maior parte das vezes, a procura por rituais mágicos decorria de problemas de saúde, físicos e mentais. No universo das curas sobrenaturais, havia dois caminhos possíveis, sendo um oferecido pela Igreja e outro pelos afamados feiticeiros. No mundo colonial marcado pela baixa condição sociocultural de seus habitantes, pela precariedade da medicina e ainda pela influência das religiões africanas e ameríndias – que também faziam uso de cerimônias de despachos de espíritos malignos -, não é de se estranhar que as pessoas procurassem o feiticeiro antes de procurar um exorcista. Dessa forma, só restava à Igreja intensificar a propaganda diminuindo a eficácia de seus ritos.
Doenças desconhecidas, difíceis de aplacar com remédios naturais – e, portanto, suspeitas de serem provocadas por feitiços -, eram normalmente as causadoras da busca por exorcismos. E, por mais estranho que pareça, a crença de que o diabo podia ser o autor das desordens corporais atingia não apenas indivíduos comuns ou homens da Igreja, mas renomados médicos, formados nas mais expressivas universidades européias. Além das tradicionais sangrias e indicações de medicamentos feitos a partir de produtos dos três reinos da natureza – mineral, vegetal e animal -, eles também defendiam os exorcismos como meio eficaz para aplacar as doenças. Muitas vezes, incapazes de compreender as leis que regiam o funcionamento do corpo e de apresentar soluções favoráveis para sua cura, os médicos acabavam se valendo das teorias da demonologia como uma espécie de “ciência auxiliar” que não só os ajudava a diagnosticar as doenças como justificar os limites da medicina.
A obsessão pelo satanismo é muito visível em determinados livros de medicina no século XVIII. Por mais contraditório que pareça, o século das luzes – que defendia a razão como principal meio para trazer “luz” e conhecimento aos homens – foi marcado pela presença da magia, da demonologia, da feitiçaria e dos exorcismos. No caso de Portugal, até por volta de 1772 – quando a Universidade de Coimbra passa por uma série de reformulações – o aprendizado da medicina se fazia mediante a leitura das versões latinas dos gregos Hipócrates (c.460 a.C.-377 a.C.) e Galeno (c.131-c.200), e de seus comentadores árabes, como Avicena (980-1037) e Averróis (1126-98). Formulada pelos gregos e posteriormente ampliada por Galeno, a teoria da existência de quatro humores no organismo (sangue, fleuma, bile e bile negra, ou melancolia) vigorou na medicina de Portugal e do Brasil no século XVIII adentro. Para a conservação da saúde, os humores deveriam estar presentes no organismo em quantidades proporcionais e equilibradas. De acordo com esse sistema, a bile negra, ou humor melancólico, normalmente associado à noite e às trevas, era considerado o humor preferido do diabo. Se cabia aos médicos cuidar das disfunções humorais, porque não tratariam dos problemas ligados ao humor melancólico, partilhando crenças comuns aos teólogos e abordando a demonologia da mesma forma que dissertavam sobre qualquer outro assunto referente a medicina?
Apesar de encontrar adeptos em diferentes setores da sociedade, os exorcismos só poderiam ser realizados por indivíduos autorizados pela Igreja. Assim, além de possuir a ordem de exorcista, era imprescindível obter licença da diocese da qual o padre exorcista fizesse parte. Portando o crucifixo, estola e sobrepeliz – tal como determinado por Roma -, o exorcista começava o ritual. Inicialmente havia um interrogatório no qual o suposto endemoniado dava informações detalhadas ao religioso sobre o que se passava com ele, o que o afligia, onde doía e, enfim, o que o levara a suspeitar da presença do Maligno. Ajoelhados, os supostos endiabrados deveriam seguir todas as ordens do padre.
Os manuais de exorcismo defendiam que, durante o ritual, o religioso tinha de manter um ar sério e sisudo para melhor enfrentar o diabo, e a voz deveria soar bem alta, refletindo a superioridade da igreja sobre os espíritos do mal. Gritos, açoites, bofetadas cuspidelas no rosto do suposto endemoniado também faziam parte do cerimonial. De acordo com esses mesmo livros, os possessos urravam e estrebuchavam no chão, dizendo blasfêmias e palavras sem sentido. Vomitavam coisas estranhas, como penas, alfinetes e bichos peludos, enquanto o sacerdote dizia fuga satana! (fora Satanás!) em altos brados. Quando o diabo não era eliminado com facilidade, eram necessárias várias intervenções do sacerdote.
As igrejas eram eleitas como locais mais propícios para a realização dos esconjuros. Mas, no caso de o doente estar impossibilitado de deslocar-se até o Templo Sagrado, permitia-se que fossem feitos na própria casa do enfermo ou mesmo do sacerdote - o que acabava favorecendo variadas transgressões.
Durante o século XVIII, muitos exorcistas foram denunciados ao Santo Ofício por transgredir a aplicação dos exorcismos. Os delitos cometidos iam de práticas consideradas surpesticiosas até o envolvimento sexual entre os religiosos e as endemoniadas. Aproveitando-se da posição de “intermediários” entre Deus e os homens, alguns exorcistas cobravam pelos seus serviços, pediam alimentos e chegavam até mesmo a roubar objetos de valor, como jóias, dos “processos” a quem atendiam.
A leitura dos processos da Inquisição de Lisboa confirma que as mulheres eram a maior parte da clientela. Naturalmente frágeis e propensas ao predomínio do humor melancólico - segundo as teorias médicas da época –, eram consideradas presas preferidas do diabo e capazes de gerar situações embaraçosas. Ardiloso e tentador, o demônio podia pôr tudo a perder, dominando o exorcista e induzindo-o ao pecado da carne. Apoiados, portanto, na convicção de que o “príncipe das trevas” desviava até mesmo os religiosos do bom caminho, os autores de manuais advertiam os leitores para o fato de o esconjuro de mulheres requerer imensos cuidados. Entretanto, na prática, tais advertências pouco valiam, e durante toda a época colonial os “padres diabos” continuaram cometendo toda sorte de abusos sexuais contra mulheres.
Nas primeiras décadas do século XVIII, atuava em Portugal certo frei Luís das Chagas, que tinha um modo muito peculiar de exorcizar as mulheres: “mandava deitá-las de costas e punha-se a cavalo nelas sobre o estômago (...) Metia as mãos por baixo da roupa (...) e mandava o dito padre se lhe metessem ente as pernas e se abraçassem com ele e desta forma lia os exorcismo (...) dizendo que ele fazia muitas coisas que não se acham nos livros mas que experiência lhe ensinava e que Deus Nosso Senhor Ilhas inspirava”. No Brasil, frei Luís de Nazaré, carmelita que vivia em Salvador por volta de 1730, sempre que era chamado para exorcizar mulheres, dizia que para recobrar a saúde era essencial ter relações carnais com ele.
Por tudo isso, um conjunto de instruções destinadas a regulamentar o ofício dos exorcistas, datado da década de 1770, dizia que, “quando o exorcismo se fizer a alguma mulher, deverão estar presentes dois homens de idade madura e vida bem regulada e também algumas mulheres de boa vida e costumes e quanto pode ser suas parentas e não consentirá que assistam mais outros homens, só se for um eclesiástico”.
Buscando impedir tantos abusos, a Igreja toma uma série de providências, punindo com rigor aqueles que praticassem os esconjuros de forma indevida. Com pouquíssimas exceções, todas as acusações da Inquisição contra exorcistas infratores do mundo luso-brasileiro são do século XVIII. Ameaçada por uma ordem cultural mais cética que se impunha sobre o cenário europeu e ainda por setores racionalistas do próprio clero, a Inquisição portuguesa intensificou a vigilância aos exorcistas infratores.
Foi esse espírito racionalista que, nas últimas décadas do século do século XVIII, levou José Monteiro de Noronha – vigário-geral do Rio Negro e professor de teologia moral na catedral de Belém, no Grão-Pará – a escrever um conjunto de instruções destinadas a esclarecer sobre a falsidade de grande parte das operações sobrenaturais e manifestações diabólicas. Considerava que os culpados pela ignorância das populações eram os próprios clérigos, que costumavam acreditar em falsas manifestações de possessão diabólica. Envolto pela filosofia iluminista, e colocando-se como um autêntico defensor das ciências, atribuía a causa de tantos erros e abusos à “ignorância da física e da medicina”. Tal observação é extremamente significativa, pois mostra que na distante capitania da América alguns seguiam as mesmas idéias dos grandes vultos do pensamento ilustrado europeu. Entretanto, isso não significa que a polêmica envolvendo o tema do diabolismo e da magia, entre aqueles que defendiam o uso da razão para a compreensão do mundo natural – os iluministas – e aqueles que defendiam uma visão de mundo “encantada” ou supersticiosa, tivera desfecho semelhante na América e em Portugal – onde as Luzes clarearam o horizonte em velocidade bem maior.


Na América portuguesa, a ausência da universidade – local por excelência de disseminação da cultura científica – dificultava o desenvolvimento dos novos modelos culturais e filosóficos propostos pelo Iluminismo. Paralelamente, as três etnias que formaram o Brasil somavam-se para garantir a solidez do pensamento mágico no universo colonial e sua resistência aos caminhos da razão.


RIBEIRO, Márcia Moisés. Vade retro satanás. Revista de História da Biblioteca
Nacional.Rio de Janeiro, a.1, n.9, p.49-53, abr. 2006.